Conceito
A criação requer conteúdo antecipado, conhecimento, vivência, subjetividade.
Isso
quer dizer que se pode ter uma boa idéia, mas se não houver conteúdo,
preparo suficiente, é improvável que essa idéia se transforme num bom
conceito, em algo que valha a pena existir no mundo, a não ser como uma
espécie de droga para o próprio ego.
Uma das principais exigências do conceito é a sensibilidade para se detectar hiatos no conjunto do que já existe.
E
também há que se enxergar a filosofia invisível por trás de todas as
coisas, que tenham conexão com algum tipo de sentimento humano, que
sejam comunicáveis, transformadoras e que façam sentido.
Não existe conceito se não houver sentido.
Conceito é também
capacidade de síntese; aliás, o conceito geralmente já é algo bastante
sintético, que comprime várias idéias dentro de uma idéia, rico em
possibilidades de desdobramentos, concretos e ou abstratos.
E, por fim, para se obter um bom conceito é importante que se saiba
redefinir situações, desconstruir o previsto, ou seja, inventar outras
formas para se transmitir determinado conteúdo.
Mergulho e afastamento
Certa vez li uma passagem do dramaturgo Autran Dourado em que ele
dizia - não me lembro das exatas palavras - que para um autor emocionar
seu público, deveria deixar de emocionar a si mesmo no momento da
criação.
Isso teve profundo efeito sobre mim à época, pois percebi ali a
importância do afastamento, do saber olhar com distanciamento a própria
criação, com visão crítica, e assim poder lapidá-la a contento, sem
permitir a obnubilação do bom senso pelo ego.
Hoje acredito que isso seja apenas a metade da história. A outra metade
consiste sim, num mergulho apaixonado, febril, dilacerado e, muitas
vezes, egóico.
Percebi que esta é justamente a grande dificuldade de
se criar algo significativo e tocante: conseguir mergulhar profundamente
e num instante seguinte afastar-se, alçar vôo e olhar a coisa de cima,
criticamente, racionalmente, e logo em seguida mergulhar de novo na
afetividade, na emoção, e repetir a ação por muitas vezes, até se chegar
a resultados satisfatórios.
Subjetividade
No processo criativo nada é mais importante do que se chegar à própria subjetividade, nesse encontro consigo mesmo.Pois
toda subjetividade traz em si um percurso emocional, racional, visual,
tátil, auditivo - entre outros - único; ou seja, uma história de vida
singular.
Por isso, quanto mais perto chegamos de nós mesmos no momento da
criação, mais chances temos de trazer à tona algo que soe novo, que
tenha frescor, que seja original, acima da expectativa comum.
Para se
criar um produto criativo com qualidade suficiente para arrebatar um
interlocutor - e isso não é nada fácil – é preciso, portanto, possuir
essa capacidade de traduzir-se em idéias, a partir de nossa mais
profunda intimidade: a que mora antes mesmo das palavras e dos signos.
Clube Caiubi de Compositores
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