5.2.08

Oficinas de aquecedores solares com recicláveis

Neide Campos / AmbienteBrasil

Com a falta de chuvas, o Brasil está sendo obrigado a usar os recursos das termelétricas, já que as hidrelétricas não estão conseguindo suprir a demanda nacional. Embora o Governo Federal já tenha se adiantado em negar o apagão elétrico, concessionárias alertam que o racionamento de energia acontecerá mais cedo ou mais tarde e, com isso, o custo da energia também deve subir para o consumidor final.

O cidadão comum parece estar de mãos atadas, apenas na expectativa de um caos previsto. Porém, há alternativas que podem ajudar na economia de energia nas residências brasileiras.

O projeto Água Quente para Todos, do programa Desperdício Zero, promovido pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná, ensina aos moradores das comunidades dos 399 municípios do Estado como fabricar seu próprio aquecedor solar. A população aprende como reaproveitar resíduos antes jogados no lixo, como garrafas PET e embalagens de leite, construindo um equipamento simples, que pode proporcionar uma economia de 30% no gasto de energia da residência.

O aquecedor segue o modelo desenvolvido por José Alcino Alano, de Tubarão (SC), que criou o aquecedor com o objetivo de economizar energia e dar um destino correto a essas embalagens. Como ele possuía um conhecimento básico sobre aquecimento por energia solar, construiu, em 2002, um coletor solar com 100 garrafas. “O projeto sempre contou e conta com o apoio total da família, mas somente após a conquista do Prêmio Superecologia, oferecido pela revista Superinteressante em 2004, é que o mesmo ficou de conhecimento público”, explica José Alcino.

Em 2004, o aquecedor recebeu patente junto ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e para garantir seu caráter social, o aquecedor solar com descartáveis não pode ser produzido em escala industrial por empresas, mas somente por associações ou cooperativas de catadores e instituições sociais, como um gerador de renda complementar; e não pode ser utilizado como barganha política, mas liberado para políticas sociais.

“Temos a consciência da modéstia do projeto, mas graças às parcerias, o envolvimento da população e da imprensa em todos os seus segmentos, possibilitaram-nos divulgar e viabilizar a sua aplicação prática em um grande número de residências em todo o Brasil”, afirma José Alcino.

O modelo já é utilizado por várias instituições e está disponível na página da Secretaria de Meio Ambiente do Paraná (clique aqui para ver).

Durante as oficinas, técnicos mostram desde a limpeza dos materiais para a confecção do aquecedor até o procedimento para sua instalação. “Também damos dicas de educação ambiental, conscientizamos as pessoas participantes da importância da economia de energia elétrica no seu dia-a-dia e de como atitudes simples, como separar o lixo doméstico, podem transformar o meio ambiente em que vivemos”, explica José Carlos Gonçalves da Silva, coordenador do projeto em Londrina (situada a 369 km de Curitiba).

As oficinas são programadas através de um calendário anual, cujas datas coincidem geralmente com eventos periódicos nas comunidades. Participam em média 20 pessoas e a intenção dos técnicos é de que os moradores, além de aprenderem a fazer o aquecedor solar, também se tornem multiplicadores da idéia.

A fabricação é fácil e barata. Um aquecedor solar ecológico para uma família de quatro pessoas requer 240 garrafas pet cristal de dois litros; 200 embalagens cartonadas de leite longa vida (tetra-pak); canos e conexões de PVC, entre outros. ”Até pouco tempo as embalagens pet e caixinhas de leite não tinham muito valor agregado. Hoje, com a possibilidade de serem usadas para o projeto do aquecedor, elas passaram a ser mais valorizadas”, afirma José Carlos. “Podemos dizer que o projeto beneficia a todos nós pela geração de renda (carrinheiros; ongs; associações comunitárias), economia de energia elétrica, e também o meio ambiente por ficar livre desses resíduos que tanto prejuízos acarretam”.

Pessoas de fora da comunidade também podem participar da oficina ou adquirir um aquecedor direto com um dos multiplicadores do projeto.

Adaptação – Em Marília (SP), o modelo de José Alcino Alano sofreu uma pequena adaptação. Desenvolvido pelo aposentado Antonio Correa Carlos Filho, usa as embalagens tetrapak fora da garrafa PET, o inverso do usado pelo pioneiro.

Ele já ministrou dois cursos na cidade e desenvolveu uma apostila onde explica como fabricar o aquecedor solar e que pode ser solicitada gratuitamente pelo e-mail carlosfac@superig.com.br.

Nenhum comentário: